segunda-feira, 11 de junho de 2012

Idéia Sem Rosto

Mensagem original
De: jose carlos lima < jose.carlos.lima@hotmail.com >
Para: edson_barrus@ig.com.br
Assunto: Idéia Sem Rosto
Enviada: 17/11/2005 11:04

O meu interlocutor=receptor íntimo=privado voltou. Ele disse que ficou 
offline porque a conexão caiu. Estou enviando anexo o restante do nosso 
papo. Aki eh Idéia Sem Rosto. Ele me pediu uma foto do meu rosto. Ele quer 
ver o meu rosto. Jamais!!!! Não posso mostrar meu rosto. Caso ele continue 
a exigir a imagem do meu rosto, vou colocar uma que vi ontem, de Clarice 
Lispector. Notei que eu e Clarice Lispector temos alguns traços físicos em 
comum, pelo menos numa foto que vi ontem, ao pesquisar no Santo Goglee, e 
não posso me restringir ao Google, tenho que visitar livrarias, ver=tocar a 
obra dela, na real=verdade. As frases a seguir foram extraidas do site

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/claricelispector/

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A seguir, as frases que pretendo abordar nos meus bate-papos com o mesmo. 
Estas citações da autora tem muito a ver comigo, com o meu processo. Não 
estou kerendo me igualar=comparar a Clarice Lispector. Trata-se apenas de 
uma interface. Ela foi jornalista e leu muito. Viajou muito. Viveu muito 
mais. Nem pensar em me comparar à autora. Afinal de contas o que escrevo 
talvez esteja mais no campo da patologia do que da poesia. Não é à toa que 
ate dias atrás o meu interlocutor=receptor era uma psiquiatra. Depois eh que 
passou a ser um artista, o Edson Barros. Entre escrever para um médico e 
para um artista, eh melhor para um artista, a gente tem mais liberdade. E 
tão bom nos embriagarmos de liberdade!!! Claro, com o cuidado de não parar 
na cadeia=manicômio=nosocômio. Os médicos existem não para aceitar ou nos 
acolher como poetas mas para diagnosticar alguma doença. Diante de uma 
cultura de bactérias eles não vem nenhuma arte=vida mas apenas a necessidade 
de receitar antibióticos=morte.



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"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, 
de entrar em contato... Ou toca, ou não toca"

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"... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de 
continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo 
mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de 
não ser profissional, para manter minha liberdade."


As frases a seguir, de Clarice Lispector, que so tem a ver comigo, não 
teriam o menor interesse para os médicos.

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"O trabalho está desorganizado, muito ruim, muito confuso. Material eu tenho 
e em abundância. O que me falta é o tino da composição, o verdadeiro 
trabalho. Minha tendência seria a de pensar apenas e não trabalhar nada. Mas 
isso não é possível. O trabalho de compor é o pior. Eu mesma vivo me 
levantando e caindo de novo e me levantando. Não sei qual é o bem disso, sei 
que é essa forma confusa de vida que vivo. Uma pessoa que quisesse tomar 
minha direção seria bem vinda...Eu nunca sei se quero descansar porque estou 
realmente cansada, ou se quero descansar para desistir."



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"É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. 
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção...porque parece que sou 
portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é 
esta?"

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"Ninguém me entendia. Agora me entendem. A que você atribui isso? Eu não 
sei... que eu saiba não fiz concessões."
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"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a 
alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não 
sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não 
confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de 
não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, 
e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: 
para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não 
quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo 
como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro".
Paixão Segundo G.H.

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1947 Berna - Suiça "Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de 
levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos 
pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício 
inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação 
a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me 
resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu 
como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me 
adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, 
tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal 
aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite 
mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em 
você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio 
de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se 
sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é 
que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você 
o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece 
uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si 
mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu 
saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma". 
Clarice.

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"Escrever é procurar entender,
é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e 
sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."

Ler o texto abaixo ("Lição de Filho", de Clarice Lispector).

Recebi uma lição de um de meus filhos, antes dele fazer 14 anos. Haviam me 
telefonado avisando que uma moça que eu conheci ia tocar na televisão, 
transmitido pelo Ministério da Educação. Liguei a televisão mas em grande 
dúvida. Eu conhecera essa moça pessoalmente e ela era excessivamente suave, 
com voz de criança, e de um feminino-infantil. E eu me perguntava: terá ela 
força no piano? Eu a conhecera num momento muito importante: quando ela ia 
escolher a "camisola do dia" para o casamento. As perguntas que me fazia 
eram de uma franqueza ingênua que me surpreendia. Tocaria ela piano? 
Começou. E, Deus, ela possuía a força. Seu rosto era um outro, 
irreconhecível. Nos momentos de violência apertava violentamente os lábios. 
Nos instantes de doçura entreabria a boca, dando-se inteira. E suava, da 
testa escorria para o rosto o suor. De surpresa de descobrir uma alma 
insuspeita, fiquei com os olhos cheios de água, na verdade eu chorava. 
Percebi que meu filho, quase uma criança, notara, expliquei: estou 
emocionada, vou tomar um calmante. E ele: --Você não sabe diferenciar emoção 
de nervosismo? Você está tendo uma emoção. Entendi, aceitei, e disse-lhe: 
--Não vou tomar nenhum calmante. E vivi o que era para ser vivido.


Grato,

José Carlos Lima

Goiânia - Rio Meia Ponte