Mensagem original
De: jose carlos lima < jose.carlos.lima@hotmail.com >
Para: edson_barrus@ig.com.br
Assunto: Idéia Sem Rosto
Enviada: 17/11/2005 11:04
O meu interlocutor=receptor íntimo=privado voltou. Ele disse que ficou
offline porque a conexão caiu. Estou enviando anexo o restante do nosso
papo. Aki eh Idéia Sem Rosto. Ele me pediu uma foto do meu rosto. Ele quer
ver o meu rosto. Jamais!!!! Não posso mostrar meu rosto. Caso ele continue
a exigir a imagem do meu rosto, vou colocar uma que vi ontem, de Clarice
Lispector. Notei que eu e Clarice Lispector temos alguns traços físicos em
comum, pelo menos numa foto que vi ontem, ao pesquisar no Santo Goglee, e
não posso me restringir ao Google, tenho que visitar livrarias, ver=tocar a
obra dela, na real=verdade. As frases a seguir foram extraidas do site
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/claricelispector/
......................
A seguir, as frases que pretendo abordar nos meus bate-papos com o mesmo.
Estas citações da autora tem muito a ver comigo, com o meu processo. Não
estou kerendo me igualar=comparar a Clarice Lispector. Trata-se apenas de
uma interface. Ela foi jornalista e leu muito. Viajou muito. Viveu muito
mais. Nem pensar em me comparar à autora. Afinal de contas o que escrevo
talvez esteja mais no campo da patologia do que da poesia. Não é à toa que
ate dias atrás o meu interlocutor=receptor era uma psiquiatra. Depois eh que
passou a ser um artista, o Edson Barros. Entre escrever para um médico e
para um artista, eh melhor para um artista, a gente tem mais liberdade. E
tão bom nos embriagarmos de liberdade!!! Claro, com o cuidado de não parar
na cadeia=manicômio=nosocômio. Os médicos existem não para aceitar ou nos
acolher como poetas mas para diagnosticar alguma doença. Diante de uma
cultura de bactérias eles não vem nenhuma arte=vida mas apenas a necessidade
de receitar antibióticos=morte.
.................
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir,
de entrar em contato... Ou toca, ou não toca"
...............................
"... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de
continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo
mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de
não ser profissional, para manter minha liberdade."
As frases a seguir, de Clarice Lispector, que so tem a ver comigo, não
teriam o menor interesse para os médicos.
...............................
"O trabalho está desorganizado, muito ruim, muito confuso. Material eu tenho
e em abundância. O que me falta é o tino da composição, o verdadeiro
trabalho. Minha tendência seria a de pensar apenas e não trabalhar nada. Mas
isso não é possível. O trabalho de compor é o pior. Eu mesma vivo me
levantando e caindo de novo e me levantando. Não sei qual é o bem disso, sei
que é essa forma confusa de vida que vivo. Uma pessoa que quisesse tomar
minha direção seria bem vinda...Eu nunca sei se quero descansar porque estou
realmente cansada, ou se quero descansar para desistir."
...........................
"É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso.
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção...porque parece que sou
portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é
esta?"
..........................
"Ninguém me entendia. Agora me entendem. A que você atribui isso? Eu não
sei... que eu saiba não fiz concessões."
...........................
"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a
alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não
sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não
confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de
não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização,
e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar:
para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não
quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo
como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro".
Paixão Segundo G.H.
...................................
1947 Berna - Suiça "Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de
levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos
pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício
inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação
a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me
resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu
como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me
adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos,
tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal
aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite
mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em
você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio
de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se
sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é
que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você
o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece
uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si
mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu
saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".
Clarice.
..............................
"Escrever é procurar entender,
é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e
sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."
Ler o texto abaixo ("Lição de Filho", de Clarice Lispector).
Recebi uma lição de um de meus filhos, antes dele fazer 14 anos. Haviam me
telefonado avisando que uma moça que eu conheci ia tocar na televisão,
transmitido pelo Ministério da Educação. Liguei a televisão mas em grande
dúvida. Eu conhecera essa moça pessoalmente e ela era excessivamente suave,
com voz de criança, e de um feminino-infantil. E eu me perguntava: terá ela
força no piano? Eu a conhecera num momento muito importante: quando ela ia
escolher a "camisola do dia" para o casamento. As perguntas que me fazia
eram de uma franqueza ingênua que me surpreendia. Tocaria ela piano?
Começou. E, Deus, ela possuía a força. Seu rosto era um outro,
irreconhecível. Nos momentos de violência apertava violentamente os lábios.
Nos instantes de doçura entreabria a boca, dando-se inteira. E suava, da
testa escorria para o rosto o suor. De surpresa de descobrir uma alma
insuspeita, fiquei com os olhos cheios de água, na verdade eu chorava.
Percebi que meu filho, quase uma criança, notara, expliquei: estou
emocionada, vou tomar um calmante. E ele: --Você não sabe diferenciar emoção
de nervosismo? Você está tendo uma emoção. Entendi, aceitei, e disse-lhe:
--Não vou tomar nenhum calmante. E vivi o que era para ser vivido.
Grato,
José Carlos Lima
Goiânia - Rio Meia Ponte
Volte ao Spin Mensário
Dia 01 Dia 02 Dia 03 Dia 04 Dia 05 Dia 06 Dia 07 Dia 08 Dia 09 Dia 10Dia 11 Dia 12
Dia 13 Dia 14 Dia 15 Dia 16 Dia 17 Dia 18 Dia 19 Dia 20 Dia 21Dia 22 Dia 23 Dia 24
Dia 25 Dia 26 Dia 27 Dia 28 Dia 29 Dia 30 Dia 31 Dia 32 Dia 33 Dia 34 Dia 35 Dia 36
Dia 37 Dia 38 Dia 39 Dia 40 Dia 41 Dia 42 Dia 43 Dia 44 Dia 45 Dia 46 Dia 47 Dia 48
Dia 49 Dia 50 Dia 51 Dia 52 Dia 53 Dia 54 Dia 55 Dia 56 Dia 57 Dia 58 Dia 59Dia 60
Dia 61 Dia 62 Dia 63 Dia 64 Dia 65 Dia 66 Dia 67 Dia 68 Dia 69 Dia 70 Dia 71 Dia 72
Dia 73 Dia 74
Dia 13 Dia 14 Dia 15 Dia 16 Dia 17 Dia 18 Dia 19 Dia 20 Dia 21Dia 22 Dia 23 Dia 24
Dia 25 Dia 26 Dia 27 Dia 28 Dia 29 Dia 30 Dia 31 Dia 32 Dia 33 Dia 34 Dia 35 Dia 36
Dia 37 Dia 38 Dia 39 Dia 40 Dia 41 Dia 42 Dia 43 Dia 44 Dia 45 Dia 46 Dia 47 Dia 48
Dia 49 Dia 50 Dia 51 Dia 52 Dia 53 Dia 54 Dia 55 Dia 56 Dia 57 Dia 58 Dia 59Dia 60
Dia 61 Dia 62 Dia 63 Dia 64 Dia 65 Dia 66 Dia 67 Dia 68 Dia 69 Dia 70 Dia 71 Dia 72
Dia 73 Dia 74
segunda-feira, 11 de junho de 2012
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
A marginalização dos usuários do crack
O post "O abandono social e o crack" é muito bom, temos muito o que destacar, me chamou a atenção, mais uma vez, que ficar somente na internet não nos leva a compreender o quadro nem acabar com o preconceito, isso ficou evidente quando o entrevistado revelou se deparar com a realidade da garota que usa o crack para suportar a rua, o prostituir-se com adultos.
Também interesses por parte de grupos de direita em desconstruir a luta e o discurso antimanicomiais que, é claro, são contra a medicina e farmacologia mercenárias
E também quanto ao "crack" ser barato. Na verdade é um barato que sai caro. Dias atrás ao conversar com um "usuário anti-social', o mesmo me disse que termina ficando caro porque a droga tem que ser usada várias vezes. Da primeira vez, disse-me ele, o 'noiado' leva 10 reais, quando acaba a grana leva a própria camisa, depois a calça
Disse ele "por isso estou maltrapilho como você". E mendou: sou jornalista e locutor. Faço várias vozes (isso é verdade, ele demonstrou para mim). Você acha que é fácil para mim entrar no ônibus, vê todo mundo bem arrumado, perfurmado, indo para o trabalho com suas pastas e eu exalando droga pelos poros?
A droga fede, disse-me ele, concluindo que gostaria de ficar apenas na "lirica" (grupos de pessoas usando o crack) mas sem usar, somente observando. Mas não consigo. Ao nos despedirmos ele me disse que nunca havia roubado para sustentar o vício, que trabalhava prá isso, que faz serviço braçal, às vezes ganha 10 reais por dia, vi que as mãos dele eram grossas, e pediu que eu lhe indicasse para algum trabalho.
Continue lendo >>>>
Também interesses por parte de grupos de direita em desconstruir a luta e o discurso antimanicomiais que, é claro, são contra a medicina e farmacologia mercenárias
E também quanto ao "crack" ser barato. Na verdade é um barato que sai caro. Dias atrás ao conversar com um "usuário anti-social', o mesmo me disse que termina ficando caro porque a droga tem que ser usada várias vezes. Da primeira vez, disse-me ele, o 'noiado' leva 10 reais, quando acaba a grana leva a própria camisa, depois a calça
Disse ele "por isso estou maltrapilho como você". E mendou: sou jornalista e locutor. Faço várias vozes (isso é verdade, ele demonstrou para mim). Você acha que é fácil para mim entrar no ônibus, vê todo mundo bem arrumado, perfurmado, indo para o trabalho com suas pastas e eu exalando droga pelos poros?
A droga fede, disse-me ele, concluindo que gostaria de ficar apenas na "lirica" (grupos de pessoas usando o crack) mas sem usar, somente observando. Mas não consigo. Ao nos despedirmos ele me disse que nunca havia roubado para sustentar o vício, que trabalhava prá isso, que faz serviço braçal, às vezes ganha 10 reais por dia, vi que as mãos dele eram grossas, e pediu que eu lhe indicasse para algum trabalho.
Continue lendo >>>>
Assinar:
Postagens (Atom)